UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – INSTITUTO DE BIOLOGIA
SÉRIE TEXTOS
DIDÁTICOS – ANO 2014
NÍVEIS
DE ORGANIZAÇÃO MORFOLÓGICA
Cid
José Passos Bastos
Professor
Associado
Universidade
Federal da Bahia
Instituto
de Biologia
I - BASE CONCEPTUAL
Universo da Botânica está representado por uma
variedade de organismos que apresentam importantes diferenças na sua organização
morfológica, estrutural e funcional. De um modo geral, a organização
morfológica pode ser abordada sob dois diferentes aspectos: (a) níveis de
organização, que reflete a relativa hierarquia na organização morfológica; (b)
planos de construção do corpo vegetativo, que enfoca aspectos concernentes à
construção ou formação dos diferentes níveis de organização morfológica.
Níveis de Organização são etapas na formação de
sistemas com maior complexidade estrutural e funcional, ou seja, etapas que vão
do menor conteúdo de informação para um maior conteúdo de informação, com o fim
de aperfeiçoar o processamento de informações tendendo a mais completa
adaptabilidade e desenvolvimento. Os níveis de organização retratam ensaios
evolutivos dos sistemas bióticos que tendem à aquisição de maior conteúdo
informativo e maior capacidade de processar informações, ou seja, de se
adaptarem e se desenvolverem.
II - NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO
MORFOLÓGICA
Os níveis de organização morfológica focalizam os
aspectos da organização estrutural. São eles: plasmodial, unicelular, trical ou
filamentoso, pletenquimático e parenquimático.
1
- Organização Unicelular
A
– Cocal
O nível cocal é caracterizado pelo estado imóvel,
apresentando parede celular, podendo apresentar movimento por deslizamento. As
formas cocais estão representadas nas bactérias, cianobactérias e algas.
B
– Monadal
O nível monadal caracteriza-se pela presença de
flagelos, representando o estado móvel. As formas monadais, com ou sem parede
celular rígida, apresentam movimento ativo, com 1-2 ou vários flagelos, esse
último caso em bactérias. Ocorre entre as algas (nas fases vegetativas, nos
gametas, zoósporos e planozigotos), Oomycetes e Chytridiomycota (zoósporos).
Nas Briófitas, licófitas e samambaias apenas nos anterozóides.
C
– Rizopodial
O nível rizopodial caracteriza-se pela presença de
rizopódios, que são expansões protoplasmáticas delgadas e ramificadas,
utilizadas para a locomoção. Ocorre em certas algas (Chrysophyceae, por
exemplo).
2
- Organização Colonial
A colônia, que pode aparecer tanto nos níveis móveis
quanto imóveis, é formada por aglomerados frouxos ou coesos de células, que
podem adquirir aspecto característico na dependência do padrão de divisão
celular. Não existe interdependência estrita entre as células, ou seja, não há
diferenciação de funções, embora em algumas colônias possa haver uma
polarização de funções. Pode apresentar forma característica e número fixo de
células. Ocorre em bactérias, cianobactérias e algas.
3
- Organização Trical ou Filamentosa
Os filamentos são formados como consequência
do padrão de divisão das células, com a mesma orientação. Podem ser
unisseriados (simples ou ramificados) ou plurisseriados (simples ou
ramificados).
3.1.
Unisseriado
O filamento unisseriado é formado por apenas uma
fileira de células. Pode ser apolar, quando não existe diferenciação polar e
basal, ou seja, não há célula apical e basal diferenciadas. É polar quando
existe uma célula basal diferente, adaptada morfologicamente para fixação do
organismo ao substrato. A célula terminal, por sua vez, pode, algumas vezes,
assumir características diferentes das outras, sofrendo divisões, o que
caracteriza uma célula apical.
O filamento unisseriado pode ser simples ou ramificado.
O tipo ramificado origina-se quando ocorre uma mudança no plano de divisão das
células, resultando na formação de ramos, os quais tanto podem ser originados
na célula apical (crescimento por célula apical) ou em células intercalares
(crescimento intercalar).
Existe ainda um sistema de filamentos ramificados um
pouco mais especializado, o tipo heterotrico, que se caracteriza por apresentar
uma porção filamentosa prostrada da qual partem filamentos eretos. O sistema
heterotrico é muito comum entre as Chlorophyta.
Os filamentos unisseriados também podem ser
uninucleados (a maioria) ou multinucleados, como em Cladophora, por exemplo.
3.2.
Plurisseriado
O filamento plurisseriado é
constituído por mais de uma fileira de células, e representa um nível de
organização mais complexo, sendo o primeiro passo para a formação de uma
estrutura parenquimatosa (hística). O filamento plurisseriado também pode ser
simples ou ramificado. Ocorre, principalmente, entre as Phaeophyceae e
Rhodophyta, mas com ocorrência também em cianobactéria.
4
- Organização Sifonal ou Cenoblástica
A organização sifonal caracteriza-se por ser
plurinucleada, sem septos individualizando células (cenócitos ou cenoblastos).
Ocorre, principalmente, nas Chlorophyta e nos fungos. Septos podem ser
desenvolvidos delimitando estruturas reprodutoras.
5
- Organização Pletenquimática
Pletênquima é um tipo de organização formada por um
entrelaçamento ou por ligação pós-gênita de filamentos (Werbeling &
Schwants 1986), originando um corpo denso e maciço; cenócitos também podem
formar um corpo maciço quando se entrelaçam, à maneira de um pletênquima. O
pletênquima, assim, tanto pode ser de estrutura filamentosa como cenocítica. De
acordo com a organização, podem ser distinguidos dois tipos de pletênquima: (a)
prosopletênquima, quando os filamentos ou os cenócitos estão frouxamente
entrelaçados, sendo a estrutura filamentosa ou cenocítica facilmente visível;
(b) pseudoparênquima, quando os filamentos estão fortemente ligados, sendo
difícil reconhecer a estrutura filamentosa (cenócitos não formam
pseudoparênquima).
6
- Organização Parenquimatosa ou Hística
A organização parenquimatosa caracteriza-se pela
presença de tecidos verdadeiros, que são formados por divisões celulares em
três ou mais planos, resultando em uma estrutura coesa e maciça.
A organização parenquimatosa pode ser simples, como
encontradas em certas algas (Chlorophyta e Phaeophyceae), de complexidade
mediana, entre as Briófitas, ou mais complexa e especializada, como encontrada
nas Traqueófitas, em que podem ser distinguidos três sistemas básicos de
tecidos: (a) sistema dérmico; (b) sistema fundamental; (c) sistema vascular.
III - PLANOS BÁSICOS DE
CONSTRUÇÃO DO SOMA OU CORPO VEGETATIVO
Embora a grande diversidade filogenética e de níveis
de organização observada entre os organismos, é possível identificar quatro
planos básicos de construção do corpo vegetativo, de acordo com Niklas (2000):
(1) unicelular; (2) colonial; (3) sifonáceo; (4) multicelular. Esses quatro
planos básicos estão na dependência da ocorrência de processos relativamente
simples: a separação dos produtos da divisão celular ou sua agregação por meio
de matriz extracelular, lóricas ou pedúnculos, determina a construção
unicelular ou a construção colonial; a ocorrência ou não da citocinese pode
determinar a condição uninucleada ou multinucleada; crescimento indeterminado
de células multinucleadas determina a construção sifonácea; a continuidade
simplástica entre as células durante e após a citocinese por meio de pontes
citoplasmáticas ou plasmodesmas determina a construção multicelular (Niklas 2000).
1
- Unicelular
Considerado o plano de construção
somático mais antigo, se caracteriza pela separação dos produtos da divisão
celular após a citocinese. A condição uninucleada ocorre quando a cariocinese é
acompanhada pela citocinese, e a condição multinucleada ocorre quando a
cariocinese não é acompanhada pela citocinese. O crescimento é determinado
(Niklas 2000).
2
- Colonial
Agregados de células uninucleadas ou multinucleadas,
mas sem continuidade simplástica entre as células. O crescimento é determinado
(Niklas 2000).
3
- Sifonáceo
Consiste de uma única célula multinucleada (cenócito
ou cenoblasto). O crescimento é indeterminado (Niklas 2000).
4
- Multicelular
Consiste de células uninucleadas ou multinucleadas que
mantêm continuidade simplástica após a citocinese. O crescimento é
indeterminado, e pode ser difuso, tricotálico, intercalar ou apical. Pode
envolver um, dois ou três planos de divisão de células, o que determina os
diferentes tipos de construção (Niklas 2000):
a
- divisão em um único plano → origina filamentos não ramificados;
b
- divisão em dois planos → origina filamentos ramificados, construção
monostromática e construção pletenquimática.
c
- divisão em três planos → origina a construção parenquimatosa.
Referências
Niklas, K.J. 2000.
The Evolution of Plant Body Plans - A biomechanical perspective. Annals of Botany 85: 411-458.
Weberling, F. & Schwants, H.O 1986. Taxionomia Vegetal. São Paulo: Editora Pedagógica e
Universitária.